domingo, julho 12, 2009

Pró e antiarena

Caro Wianey

Como moderador da comunidade do orkut Grêmio Arena, me atrevo a tecer algumas considerações a respeito das dúvidas levantadas pelo conselheiro Marco Antônio Souza.

A comunidade Grêmio Arena vem mantendo contato regular com Grêmio, antes com o vice-presidente Antonini e agora com o presidente do Grêmio Empreendimentos Dr. Adalberto Preis. Nossos contatos e reuniões são para dirimir dúvidas para toda torcida, levar sugestões (algumas foram bem aceitas) e manifestar o nosso apoio de entusiastas inclusive nos colocando à disposição do clube se assim for necessário.

Então vamos às questões:

Em nenhum momento o Grêmio pagará “aluguel” na arena. Na estruturação do negócio, o Grêmio, enquanto a dívida da OAS com o BNDES estiver sendo amortizada, terá pleno uso do equipamento, receberá 7 milhões anos reajustáveis e 100 porcento da receita líquida se houver. Portanto, como podes ver, não há aluguel e nem pagamento algum por parte do Grêmio neste período. A receita dos 7 milhões é fixa e independe do resultado da arena neste período, sendo ela equivalente ao que se arrecada hoje no olímpico, não havendo perda alguma para o Grêmio.

Quanto à comparação patrimonial entre os dois clubes, acho estranha a manifestação do conselheiro. Receberemos um equipamento de ponta, moderno, multiuso, com menos custos de manutenção, em uma área equivalente do Olímpico, com a plena propriedade em 20 anos, como qualquer mortal que compra o seu imóvel financiado no SFH e aliena fiduciariamente sua dívida no imóvel. Como poderia eu comparar uma bela reforma em uma kombi 69 com um Mercedez 2012?

Quanto à questão de transparência, também acho estranha a manifestação. Quando da apresentação das propostas ao conselho em novembro de 2007, as mesmas ficaram à disposição dos conselheiros para análise, mas menos de 100 conselheiros fizeram esta verificação. O Antonini sempre esteve à disposição dos conselheiros e sócios para explicar o processo e recentemente, em um sábado no olímpico, o Dr. Preis, na conversa da direção com os sócios, respondeu exaustivamente às perguntas e questões levantadas por estes. Nós somos testemunhas vivas desta transparência ao sermos sempre muito bem recebidos por Antonini e Preis. Estranha esta manifestação, muito estranha.

Quanto aos riscos. É verdade que a crise mudou as visões de negócio existentes antes dela, o próprio projeto arena foi modificado após o furação do ano passado, mas quais os riscos então? O Grêmio não será tomador de nenhum empréstimo ou financiamento, não entregará o seu patrimônio atual, o Olímpico, sem que antes haja a entrega da Arena, concluída e com todos os equipamentos. Qual o risco então? O risco de uma enorme desilusão tão somente. O conselheiro fala em “uma simples aquisição de um estádio pronto”. Simples?

É tão simples que ninguém o fez ainda, destituindo de seriedade o autor da frase. Também diz que não sabe quanto o Grêmio pagará durante os 20 anos. Aqui temos que abrir um parêntese para definirmos este “pagamento”. Durante o pagamento da dívida, que pode durar de 7 a 9 anos, o Grêmio receberá 7 milhões fixos reajustáveis mais 100 porcento da receita liquida e, após este período, o valor fixo passa para 14 milhões ano e 65 porcento da receita líquida.

Ora, em ambos cenários o Grêmio terá uma receita maior que a que obtém hoje com o Olímpico e receberá ainda um patrimônio novo como já falei antes. Quem está pagando a quem neste caso? O Grêmio que arrecada menos como o estádio atual que possui valor menor à arena que receberá ou a OAS que para lucrar com os seus empreendimentos no entorno banca a maior parte da construção? Como eu poderei aferir com certeza os valores percentuais quem ambos receberão da receita da arena, sem que esta esteja balizada em situação futura, feita em cenários diferentes, mas em todos com obtenção de lucro? Mais uma vez temo pela seriedade do conselheiro.

Quanto aos valores imobiliários, temos a informação de avaliação do Olímpico em 80 milhões, porém agravado com o futuro custo de uma demolição. Será que alguém da “oposição à arena” já parou para pensar o quanto custa para demolir um estádio como o Olímpico que é uma montanha de concreto? Porém o valor da arena eu sei que será superior a 300 milhões. Não seria uma troca patrimonial vantajosa? É verdade que o valor do terreno do Olímpico terá uma avaliação superior em virtude do aumento dos índices construtivos, mas também o terreno do Humaitá terá a mesma valorização pelos mesmos motivos. Qual o problema? Ainda mais se pensarmos que o empreendimento no bairro proporcionará mais valor agregado ao terreno.

A questão da desoneração. Tirando o apelo burlesco das palavras do conselheiro, ficamos com os fatos. As dívidas que oneram o Olímpico já existem, não estão sendo criadas em função da arena, onde inclusive o Grêmio não está aportando dinheiro algum. Portanto, a desoneração do terreno do Olímpico deveria ocorrer de qualquer maneira a não ser que o nobre conselheiro estive com a intenção de dar o calote, elevando o nome do Grêmio tão decantado em suas linhas, ao limbo dos caloteiros.

O processo de desoneração está acontecendo normalmente e o Grêmio tem prazo para fazê-lo até à entrega da arena, em torno de 3 anos, qualquer coisa em contrário é mera especulação e a cláusula das verbas de televisão é mera garantia para o negócio, podendo o Grêmio inclusive proceder em uma troca de garantia com os credores atuais. O conselheiro, uma mãe Diná por certo, já afirma que jovens promessas serão vendidas, verbas serão comprometidas, dirigentes serão presos, etc.

Só nos resta fugirmos para as colinas e esperarmos resignadamente o juízo final. Esquece o nobre, que justamente a arena será a responsável por um aporte de recursos que não possuímos hoje, uma diminuição extraordinária de custos, isto tudo avalizado pela Fundação Getúlio Vargas e não em um escritório de contador localizado em uma galeria da cidade.

Diz o conselheiro que “A construção da Arena não aponta para qualquer indicativo de solução para os graves problemas que o Grêmio hoje enfrenta”. Baseado em quais cálculos, conselheiro? No seu achômetro? Há quem dissesse uma vez que o uso do som nos cinemas não iria vingar, porque tiraria o charme dos filmes mudos....fico pensando se não era algum antepassado seu.

O conselheiro pergunta por que não se recupera o Olímpico e se faça ali um empreendimento com shoppings e centro empresarial. Ora, conselheiro, creio que o senhor não freqüente as reuniões do conselho, pois lá já foi exaustivamente explicado que uma reforma é inviável financeiramente por seus custos elevados, sendo maiores que a construção de um estádio novo. Quem bancaria este custo se o senhor mesmo informou que estamos endividadas e não podemos abrir mão das verbas do futebol? Que milagre é esse? Por favor........

O padrão Fifa. Serei rápido aqui. Veja bem conselheiro, o padrão Fifa não é perseguido para se sediar jogos da copa do mundo, mas para termos um estádio qualificado enquanto ele durar, entendeu?

Questão ISL. Esta é uma leviandade do conselheiro, pois são questões completamente diferentes onde a ISL tinha participação no futebol, era credora de recursos aportados, não envolvendo em patrimônio imobiliário. A parceria com a OAS, não envolve situação de dívida. O Grêmio não deverá nada à OAS, essa terá somente uma participação temporária na receita da Arena, sejam elas quais forem, baixas ou altas. Argumentos falaciosos, tão somente, como se toda a decisão unânime daqui para frente seja algo ruim para o clube e isso esteja à sombra da ISL.

Com relação ao fundo social. Como o senhor gosta de fazer perguntas ao sócio, farei uma para o senhor. O que seria melhor para o sócio patrimonial, um patrimônio de valore menor, onerado por dívidas ou um novo patrimônio com valor superior e desonerado em 20 anos? Interessante que o conselheiro advoga e julga juridicamente a questão. O que dizem os nossos magistrados à respeito?

Parecer da comissão de patrimônio. Aqui o conselheiro vai além, distorce a verdade. As comissões do conselho são representativas de todas as facções do Grêmio, portanto não há parcialidade política. Os pareceres apontaram necessidade de alterações nos contratos, mas não se posicionaram contra o negócio.

O próprio trabalho da Fundação Getúlio Vargas, apoiado pelo presidente Odone à época, ajudou nestes pareceres. Correções foram feitas nos contratos e as verbas fixas, durante os 20 anos, trouxeram segurança ao negócio, ao contrário do que prega o conselheiro, independentemente se estaremos em libertadores ou participando de finais. O conselheiro diz: “Ou seja, fora do cenário ótimo (praticamente impossível de ser cumprido) a construção da Arena trará prejuízos ao Grêmio. Palavras da FGV.” Desculpe-me conselheiro, mas isso é uma enorme falácia como já demonstrei antes.

Ipiranga de Erechim e Cidreira. Não seja simplista, conselheiro. Não se constrói títulos somente com patrimônio, mas também com torcida (Ipiranga e Cidreira têm?), com boa administração e bom plantel, mas que a construção de estádios em GRANDES clubes, impulsiona os títulos, não tem como negar, estão aí os exemplos do co-irmão, do Atlético Paranaense e de nós mesmos após a conclusão do Olímpico Monumental, ou será que estou enganado? O senhor fala que a prioridade é sanar suas finanças, então eu lhe pergunto: Construir uma arena que trará mais recursos e diminuirá os custos não é uma excelente forma de atingir estes objetivos prioritários?

Por fim, respondo às quatro perguntas.

1) Meu imóvel não é passível de uma simples reforma, está onerado em dívidas e não pagarei financiamento algum por este apartamento de luxo no Humaitá. Quem não fizesse a troca não moraria em nenhum dos dois imóveis, mas no hospital psiquiátrico São Pedro.

2) Eu sei quanto custa. Custa o meu imóvel velho que alguém terá o custo de demolir em detrimento de um apartamento que vale no mínimo quatro vezes mais.

3) Essa avaliação já foi feita, mas salta aos olhos a diferença entre um fusca e um vectra.

4) Como já falei antes, o custo é muito inferior ao patrimônio que receberei. Se o conselheiro tiver um negócio destes a me oferecer, quero me manifestar aqui como o primeiro interessado.

Wianey, como podes verificar, não houve a mínima dúvida em minhas respostas. Há interesses muito acima do clube envolvidos nesta questão. Espero que no mínimo estes senhores aceitem os bons ventos democráticos do clube e cerrem fileiras pelo clube, caso contrário, aconselho a estes, os bons ares do bairro Menino Deus, mais próximo do rio.

Abraços

Glenio Costa de Mello
Moderador da comunidade Grêmio Arena no Orkut
Sócio do Grêmio

Essa carta foi elaborada em resposta à manifestação de outro associado do Grêmio, matéria publicada na coluna de W.C. em Z.H.

O enorme risco da arena para o Grêmio

Marco Antonio Costa Souza

O Rio Grande do Sul alcançou um destaque ímpar no cenário esportivo mundial. Afinal que outra cidade do porte de nossa Capital tem dois campeões mundiais, três títulos da Libertadores, cinco Copas do Brasil, cinco campeonatos brasileiros etc.

A pujança de nosso futebol está alicerçada na disputa e na igualdade de Grêmio e Internacional. É curioso observar a extrema similitude do currículo dos dois clubes: (1) ambos têm pouco mais de um século de existência, sempre dedicada ao futebol; (2) o número de vitórias em confrontos diretos é muito parecido, apesar dos 100 anos de disputas; (3) o número de campeonatos regionais também é muito semelhante; (4) o Grêmio tem mais "Copas do Brasil", enquanto o Inter tem mais "Brasileiros"; (5) o Grêmio tem duas "Libertadores" e o Inter uma; (6) ambos foram campeões mundiais.

Esse equilíbrio é exatamente reconhecido como o fator motivador de nosso sucesso no mundo do futebol.

Pois esta paridade poderá ser rompida, se o Grêmio insistir na absurda idéia de construir a Arena nos moldes anunciados.

Se forem concluídos os dois projetos hoje prometidos, em 2014 o Internacional terá um imenso patrimônio e contará com um complexo esportivo incomum entre clubes de futebol. O Grêmio, ao contrário, será um time de futebol com um estádio que somente será seu 20 anos depois, sendo que durante todo esse período pagará um aluguel que absurdamente até hoje não foi calculado.

O Grêmio no seu aspecto institucional é quase um ente público. Assim sendo, a sua administração exige transparência absoluta, que não está sendo aplicada no presente caso. Por quê?

Ser um clube moderno não é correr riscos excessivos. Moderno hoje, sem dúvida, é ter cautela, especialmente se lembrarmos da recente crise econômica que assolou o mundo.

Há um ano modernidade poderia ser sinônimo de riscos elevados. Hoje, moderno é ter cautela e riscos minimizados. Que bom para o mundo que houve essa mudança e que pena que o Grêmio ainda seja antigo neste tópico de muitíssima e vital importância, preferindo correr um risco exacerbado, desnecessário e totalmente desproporcional ao tamanho do Clube!

Apesar da propalada e aparente complexidade do negócio Arena, tudo pode ser resumido à simples aquisição de um estádio pronto, através de uma parcial dação em pagamento da área da Azenha e pela participação da construtora durante 20 anos na exploração econômica do novo estádio.

O Grêmio sabe quanto custará a construção da Arena (R$ 307.000.000,00), segundo foi divulgado.

Mas o absurdo é que o Grêmio não sabe quanto pagará pelo novo estádio. Quem fez essa afirmação peremptória perante uma platéia de 50 gremistas no Restaurante Copacabana (alguns dias atrás) foi um dos dirigentes da Grêmio Empreendimentos.

Mas o show de horrores e absurdos não para por aí, pois o Grêmio não tem uma avaliação atualizada da Azenha e assim também não sabe quanto vale a área que está sendo entregue em dação em pagamento. A avaliação que existe é anterior à elevação do índice de construção, o que a torna imprestável.

Quem de nós, na administração de nossos negócios pessoais, faria um negócio sem saber o seu valor final? Quem de nós, na administração de nossos negócios pessoais, daria como parte do pagamento de um negócio uma área não avaliada corretamente?

Se nós não faríamos pessoalmente um negócio similar, por que o Grêmio deve fazer?

Um clube com uma dívida imensa, cuja atividade fim são resultados em campo, não deve comprometer 100 anos de história, lutas, glórias e conquistas em uma aventura totalmente despropositada, cujos benefícios principais serão auferidos por terceiros.

E não se diga que a construção do novo estádio não sangrará recursos do futebol. Pelo acordo assinado com a OAS, o Clube deverá desonerar as penhoras incidentes sobre a Azenha no período de três anos. De onde sairá este dinheiro? Obviamente que do futebol, tanto que a garantia exigida pela OAS, admitida pelo Grêmio, é exatamente a verba da televisão.

Ou seja, nos próximos 3 anos o Grêmio deverá "desviar" R$ 21.000.000,00 de sua atividade fim, para liberar a área que será entregue para a OAS.

É quase impossível de imaginar que os atuais dirigentes do Grêmio saibam das condições do contrato assinado ainda na gestão passada, pois o eventual descumprimento da destinação de R$ 7.000.000,00 anuais da verba da televisão, poderá implicar na prisão dos dirigentes que não forem adimplentes com a obrigação, eis que são considerados "depositários" daqueles valores.

Fica assim evidente que o valor acima referido será honrado, em prejuízo das demais atividades do Clube, em especial o futebol.

Muitas das dificuldades que o Grêmio enfrentou e enfrenta dentro de campo decorrem de péssimas administrações e da consequente insuficiência de recursos para manter ou trazer atletas.

É inadmissível que um clube com a grandeza do Grêmio tenha enfrentado imensas dificuldades para pagar um milhão de dólares ou euros por um jogador considerado necessário (Souza).

É inadmissível que o Grêmio tenha precisado vender jovens promessas para poder manter um jogador reconhecidamente bom, mas certamente já muito mais perto do final da carreira.

É inadmissível que o Grêmio sistematicamente precise vender craques e promessas de craques e pense simultaneamente em construir um luxuoso estádio.

O objetivo do Grêmio são vitórias, títulos e o estádio deve ser uma conseqüência da grandeza esportiva do Clube. O Grêmio não é uma empresa imobiliária, mas um clube de futebol.

Todos nós sabemos, e a história está aí para confirmar, que sonhos e projetos faraônicos são o caminho mais curto para a ruína.

Clubes endividados namoram o rebaixamento, enquanto clubes equilibrados financeiramente disputam títulos. Não é por outro motivo que TODOS os grandes clubes brasileiros que foram rebaixados para a segunda divisão enfrentavam — exatamente no momento dos rebaixamentos — graves crises financeiras, posteriores a administrações desastrosas e pródigas em gastar desmesuradamente, além de outros problemas.

A construção da Arena não aponta para qualquer indicativo de solução para os graves problemas que o Grêmio hoje enfrenta, muito pelo contrário, denotam condições e riscos não ponderados adequadamente pelos dirigentes, capazes de comprometer um passado de glórias, um presente de muitas lutas e um futuro que não nos pertence, mas que deverá — desejamos nós — ser saboreado por nossos filhos.

O que mais precisará mais para que o Grêmio para não queira essa Arena?

Por que não recuperamos o Olímpico? Basta explorar as áreas contíguas ao estádio ("carecão", ex-piscinas, ginásio, Mosqueteiro), transformando-as em centro empresarial, shopping, hotel, centro de convenções, estacionamento etc.

Com o dinheiro da exploração destas áreas o Grêmio reforma o Olímpico e ainda segue recebendo rendimentos indefinidamente. Pode manter o campo suplementar, transformando-o em um mini-estádio, com estacionamentos no sub-solo.

Por que não?

Por que não consultar a torcida sobre a reforma do Olímpico ou a construção da Arena?

Por que não?

E não venham dizer que o Olímpico está localizado em lugar de difícil acesso para os padrões Fifa.

Essa balela de "padrão Fifa" é uma ilusão, pois se algum jogo vier a ser realizado na nova Arena na Copa do Mundo de 2014 (contrariando todas as indicações até agora existentes que apontam para o Beira-Rio), não será muito diferente de uma partida entre Zaire e Namíbia.

Em lugar de difícil acesso está o Beira-Rio, previamente escolhido pela FIFA como palco das partidas da Copa do Mundo em Porto Alegre, o qual está confinado entre o Guaíba e o morro Santa Tereza, somente possuindo acesso em dois sentidos.

O fato do assunto ter transitado e ter sido aprovado por diversas comissões e pelas mãos e cabeças de diversos gremistas "eméritos" não é impeditivo de uma revisão urgente, pois os equívocos são próprios dos seres humanos.

A maior prova disto — no âmbito do próprio Grêmio em passado muito recente — é o contrato da ISL, aprovado por todas as comissões e quase unanimemente pelo Conselho (apenas 05 conselheiros votaram contra) e que se revelou um equívoco monumental. Nesse caso, a sorte do Grêmio foi que a ISL quebrou, pois do contrário hoje o Clube não teria sequer um estádio.

A discussão do contrato da ISL gerou um consenso muito maior do que a construção da Arena entre os sócios, conselheiros e dirigentes. E nem por isso deixou de ser um erro histórico.

Ainda quanto a aprovação da matéria pelo Conselho Deliberativo há alguns outros aspectos que merecem reflexão, pois esse negócio realizado pelo Grêmio não sobrevive a uma discussão judicial.

Primeiro, porque a aprovação da matéria perante o Conselho Deliberativo ocorreu sem a aferição das presenças ("quorum"), oportunamente requerida conforme consignado em ata e, segundo, porque o texto aprovado não corresponde ao contrato firmado. Somente esses motivos seriam suficientes para colocar em dúvida a questão da matéria já estar vencida. Para que uma matéria esteja vencida é preciso que tenham sido cumpridos os requisitos formais.

Contudo essa questão apresenta mais um "senão", qual seja o fato de que o Conselho Deliberativo tem no máximo legitimidade para fazer a representação associativa e jamais a representação patrimonial dos titulares de quotas de Fundo Social. Uma coisa é representação associativa e outra, muito diferente, é representação patrimonial.

Talvez não seja do conhecimento de todos, mas o Grêmio comercializou no passado quotas de "Fundo Social", onde cada proprietário de "Fundo Social" é titular de 1/1000 de todo o patrimônio imóvel e móvel do Grêmio (assim está expressamente consignado em documento próprio). Nota-se claramente que essa relação patrimonial não pode ter sido representada pelo Conselho Deliberativo, pois os titulares de quotas de "Fundo Social" têm a co-propriedade do patrimônio do Grêmio.

Gostem alguns ou não, esta é uma situação consolidada sob o prisma jurídico. Trata-se de um exemplo típico de direito adquirido, através de um ato jurídico perfeito.

Assim, o fato da aprovação da construção da Arena pelo Conselho Deliberativo não é impeditivo de uma revisão, caso se perceba e se reconheça que houve equívocos no curso do processo. O que vale mais: insistir em um erro ou correr o risco de acabar com um clube de 100 anos de tradição?

Contudo, há outros fatos relevantes e que não foram devidamente analisados nesse processo. O parecer da Comissão de Patrimônio não pode ser tido como favorável ao negócio firmado com a OAS. Exatamente a comissão mais importante em todo esse processo, teve uma posição que não pode ser tida como de aprovação.

E mais, o alardeado estudo da Fundação Getúlio Vargas/FGV somente indicou como favorável ao negócio realizado pelo Grêmio um cenário totalmente improvável para um clube de futebol, sempre sujeito a alterações no seu desempenho. O único cenário que aponta para um negócio rentável exige que o Grêmio tenha uma presença quase constante em Libertadores e figure nas 4 primeiras posições do campeonato brasileiro em todos os anos.

Para demonstrar a inviabilidade do cenário exigido, basta observar que nenhum clube brasileiro nos últimos 30 anos atendeu às exigências de desempenho que colocam a construção da Arena como positiva. Ou seja, fora do cenário ótimo (praticamente impossível de ser cumprido) a construção da Arena trará prejuízos ao Grêmio. Palavras da FGV.

Se agregarmos esses fatos aos demais (falta de avaliação técnica da Azenha, falta de cálculo do valor a ser pago pela Arena, etc) não é possível enxergar como todo esse risco possa ser minimamente razoável. Vale lembrar que um risco elevado implica necessariamente em uma probabilidade de prejuízo muito elevada.

O que é incompreensível é porque não se sanam estas dúvidas agora: Bastaria (1) mandar avaliar a Azenha (não demoraria mais do que 60 dias e o custo não seria exorbitante) e (2) fazer o estudo do custo do novo estádio (é um trabalho que se resolve em poucos dias).

Há medo ou desinteresse nos resultados?

A convicção reinante é que o Grêmio pagará um valor absurdo pelo novo estádio e só esse motivo pode justificar essa nuvem imensa de dúvidas e a inexplicável ausência do cálculo do valor que o Grêmio deverá pagar pela Arena.

Evidentemente que o clube precisa crescer. Mas um clube de futebol não cresce simplesmente como conseqüência da construção de um novo estádio. Se assim fosse, o Ypiranga de Erechim deveria ter sido campeão brasileiro, talvez gaúcho, pelo menos da 2ª divisão do interior. Se assim fosse, em Cidreira deveria ter "brotado" um time de futebol minimamente razoável para fazer jus ao "Sessinzão" (pomposamente denominado Estádio Municipal de Cidreira).

Os exemplos são muitos e todos conduzem a um risco muito elevado, maior ainda ser considerarmos a grandeza do Grêmio e tudo o que está em jogo. Aliás, é sempre muito citado o ditado que "quanto maior a árvore, maior o tombo".

Não há dúvidas que o Grêmio está tentando alterar a ordem dos fatos e isso é muito perigoso, além de quase sempre redundar em um problema imenso. A construção da Arena não assegurará títulos e conquistas para o Grêmio na sua atividade fim. Pelo contrário, a construção de um estádio retirará (ver caso das penhoras do Olímpico) recursos do futebol, dificultando PERMANECER em um lugar privilegiado no cenário esportivo.

Por outro lado, uma equipe vencedora proporcionará mais recursos para manter o futebol forte e, se conveniente, construir um novo estádio.

A primeira prioridade do clube deveria ser sanar suas finanças, montar um bom time de futebol, reconquistar a confiança dos investidores, etc, e aí sim pensar em um novo estádio.

É extremamente importante fazer 4 perguntas para todos os gremistas, em especial para aqueles que têm algum poder de decisão no Grêmio:

1) Na gestão de seus bens pessoais, trocaria um terreno seu, localizado na Azenha, com 500 metros quadrados, onde existisse uma casa antiga de 100 metros quadrados (passível de uma boa reforma) por um apartamento de luxo no bairro Humaitá, com os mesmos 100 metros quadrados de área, com o agravante que ainda pagaria um pesado financiamento durante 20 anos?

2) Na gestão de seus bens pessoais faria o negócio acima referido sem saber quanto custaria esse novo e luxuoso apartamento ao longo e ao cabo de 20 anos?

3) Na gestão de seus bens pessoais, havendo dúvida quanto ao valor da sua propriedade, venderia o imóvel sem a precedência de uma criteriosa avaliação técnica?

4) Na gestão de seus bens pessoais, faria um negócio sem saber qual seria o custo final?

Se houve pelo menos uma única dúvida nas respostas às perguntas acima formuladas, é preciso refletir muito sobre todo esse negócio.

Ninguém poder ser contra o desejo do Grêmio possuir um novo estádio, pois é natural que qualquer pessoa queira ter uma casa boa, moderna, quiçá luxuosa. Mas este é o momento do Grêmio ingressar nessa empreitada? Valem os riscos que estão em jogo?

7 comentários:

José Augusto disse...

carlos josias Disse:
12/07/2009 às 20:08

VOU RELEMBRAR. ESTE SENHOR, REDATOR DO TEXTO, ME RESPONDEU UM CUJPRIMENTO, NAS CADEIRAS DO GREMIO INTERVALDO DE UM JOGO, COM UM TAPA NA ORELHA. PROPOUS AÇÃO PENAL CONTRA ELE. ELE ATUOU EM CAUSA PRÓPRIA POR QUE CURSOU FACULDADE DIREITO – E EU JÁ DISSE QUE NÃO PASSA CURSAR UMA FACULDADE DE DIREITO PARA SER ADVOGADO. FOI CONDENADO. REPITO. FOI CONDENADO. PROPUS RECURSO DE APELAÇÃO. O APELO FOI TIDO COMO DESERTO PORQUE FORA DE PRAZO. REPITO, ELE PROTOCOLOU O APELO DEPOIS DO PRAZO LEGAL. NADA PIOR PARA UM ADVOGADO DO QUE PERDER O PRAZO. E IMAGINEM, AINDA MAIS EM CAUSA PRÓPRIA. INCONFORMADO PROPOS OUTROS RECURSOS PARA DISCUTIR QUE O PRAZO QUE HAVIA PERDIDO NAO TINHA SIDO PERDIDO ….. POIS POR MAIS DUAS VEZES PERDEU O PRAZO DE NOVO. REPITO. PERDEU NUMA MESMA CAUSA TRES VEZES O PRAZO. AGORA,MAIS ATRASADO DO QUE NUNCA, VEM DEBATER SOBRE A ARENA QUE JÁ FOI APROVA E REAPROVADA PELO CONSELHO. ELE CONTINUA INTEMPESTIVO. NA DÁ PARA LEVAR A SÉRIO UM PROFISSIONAL DO DIREITO QUE PERDE TANTAS VEZES O PRAZO NUM SÓ PROCESSO. ME DESCULMPEM, MAS NÃO DÁ PARA PERDER TEMPO COM DISCUSSÕES SOBRE A OPINIÃO DELE. ESTE SITE TEM ASSUNTOS MAIS IMPORTANTES E POR GENTE COMPETENTE PARA DEBATER.

José Augusto disse...

carlos josias menna de oliveira Disse:
09/07/2009 às 19:20

Estou com o Giuliano, também fiquei sem entender o trecho; a propósito o dr. Preis já está rouco de tanto falar mas parece que quando as pessoas nao querem escutar nao adianta então o melhor mesmo é ignorar;
com relação a grupos politicos, penso que isto faz parte da democracia, o pluritpartidarismo, e antes de achar temerário acho saudável,o exercício da condução deles é que pode eventualmente, como disse o flávio, resultar em atos danosos … mas a co-existência destes grupos é recente e penso que com o tempo irá se apaziguar, afinal saimos de um século inteiro em que o poder rolava na mao dos mesmos ….

José Augusto disse...

carlos josias menna de oliveira Disse:
09/07/2009 às 19:20

Estou com o Giuliano, também fiquei sem entender o trecho; a propósito o dr. Preis já está rouco de tanto falar mas parece que quando as pessoas nao querem escutar nao adianta então o melhor mesmo é ignorar;
com relação a grupos politicos, penso que isto faz parte da democracia, o pluritpartidarismo, e antes de achar temerário acho saudável,o exercício da condução deles é que pode eventualmente, como disse o flávio, resultar em atos danosos … mas a co-existência destes grupos é recente e penso que com o tempo irá se apaziguar, afinal saimos de um século inteiro em que o poder rolava na mao dos mesmos ….

Anônimo disse...

BOA GLENIO !!!

José Augusto disse...

carlos josias Disse:

12/07/2009 às 20:13
SÓ PARA COMPLEMENTAR. POR FIM, AS OPINIÕES JÁ SUPERADAS DAQUELES QUE SE INCOMODAM COM A ARENA, JÁ MAIS DO Q CONHECIDAS NESTE SITE. POR DEMAIS. O ASSUNTO AQUI JÁ TA CHATO E CHATEANDO. SÃO SEMPRE OS MESMOS QUE REPETEM A MESMA LADAINHA DE SEMPRE. JA DISSE E VOLTO A REPETIR. ESTE BLOG JA MANDOU UMA COMISSAO QUE FEZ RELATORIO E QUE ESGOTOU PERGUNTAS AO DR.PREIS. SE ENTENDEM CABER NOVA, SERIA MAIS ADEQUADO QUE ISTO FOSSE FEITO DE NOVO. SINCERAMENTE ACHO QUE SERIAMOS MAIS GREMISTA SE PENSSASSEMOS NA ARENA DAQUI PRA FRENTE, POIS SEGUE EM FRENTE O PROJETO, E NAO FICASSEMOS REMOENDO QUESTOES QUE O CD JA DEFINIU. E OS INTEMPESTIVOS QUE ADQUIRAM UM CÓDIGO DE PROCESSO E VÃO ESTUDAR MAIS PARA SUPRIR AS DEFICIENCIAS QUE RESTARAM DA FACULDADE E QUE A MILITANCIA NAO CUROU. SAUDAÇÕES TRICOLORES

José Augusto disse...

Perdão pela falha. Esses comentários foram retirados do blog sempreimortal.

Matuza disse...

A resposta a carta do Marco Antonio foi do famoso Glenio "QUEM?".