Impressionante como guardam atualidade. Modéstia à parte, a leitura dessas reflexões e informações fará compreender a essência do problema do Grêmio. Faltando apenas fazer a análise do cenário atual. Quem sabe alguém se habilita ?
Não há exclusivamente heróis nem exclusivamente bandidos. As causas de hoje surtem efeitos amanhã. Tanto os negativos quanto os positivos.
Sábado, Agosto 26, 2006
A MELHOR CONTRATAÇÃO QUE A GENTE PODE FAZER É PAGAR OS SALÁRIOS EM DIA.
Esta frase foi atribuída ao Presidente do Co-irmão (ZH, 20/08/06, p. 61).
Traz à reflexão algumas questões fortemente controvertidas sobre nossos Clubes de futebol.
Futebol é bola na rede. Agenda estratégica não interessa.
Frase pronunciada em programa de rádio por outra de nossas estrelas (?) da política clubística.
No Co-irmão, a recuperação começou com Fernando Miranda.
A frase provoca erisipela em alguns setores.
Quem quebrou o Grêmio?
Embora todos saibam, é outra pergunta que provoca calafrios.
Fernando Miranda e Flávio Obino foram mártires, vítimas, sacrificados por uma causa, ou foram, mesmo, incompetentes?
É melhor assumir o clube com o vestiário 'vazio' ou com jogadores descontentes tendo como crédito remunerações acima da capacidade de pagamento do Clube, em atraso, contratos longos ?
Sem a pretensão de ensinar ninguém nem a veleidade de esgotar o assunto, deixo algumas idéias para reflexão e debate.
1. O pagamento de salários em dia é fundamental. Não se argumente com a exceção de circunstâncias nas quais a quebra da regra foi contornada pela habilidade, durante pequeno prazo . Nem com os casos nos quais os jogadores ganhavam fortunas tão grandes que o não pagamento dos direitos de imagem não lhes causava nenhum problema financeiro. Desde que pagos os salários. Os problemas, nesses casos, foram contornados momentaneamente. Seguiram-se o descontentamento, a baixa produtividade, as reclamatórias trabalhistas, as ações cíveis, os bloqueios de receitas, o estrangulamento financeiro.
(continua)
2. Miranda assumiu em plena fase de transição para a 'Lei Pelé' . Salários tipo 'Dunga', acima das forças de pagamento do clube. Fez contratos curtos com jogadores contratados para a emergência e contratos longos com jogadores promissores, especialmente das categorias de base. Vendeu e bem jogadores que, em breve, teriam 'passe livre' com prejuízo total para o Clube. Deixou o vestiário livre 'vazio' de problemas e com jogadores valiosos e futurosos, ex.: Nilmar.
3. Obino recebeu o clube com uma boa equipe de futebol, mas com o vestiário (por ele chamado, numa infelicidade de 'buraco do amor'), transformado num barril de pólvora. Os grandes contratos, grandes no valor e no prazo (ex. o goleiro com custo em torno de R$ 150 mil mensais) . Nessas condições, Danrlei, Tinga, Anderson, Roger etc. Gilberto com a segunda parcela da 'compra' atrasada desde a metade de 2002. Impostos atrasados. FGTS não recolhido. Jogadores já dispensados cobrando elevados valores, ex., Zinho (cerca de 3 milhões), Valdo. Uma folha de pagamento maior do que toda a receita do Clube. Nenhum jogador 'vendável', pois os principais nomes ninguém queria pelos salários muito acima do mercado.
(continua)
Sexta-feira, Setembro 01, 2006
Das duas situações descritas, é SEMPRE preferível receber o vestiário vazio. Você monta o time que quiser, sob seu controle técnico e financeiro. Pode ter dificuldade no início, mas vai melhorando o time aos poucos. Com o vestiário cheio de problemas, salários acima da capacidade de pagamento, a coisa desanda conforme inúmeros exemplos em vários Clubes. O fato é que às vezes as pessoas se queixam dos benefícios recebidos mostrando que não são do ramo. Embora se deva reconhecer que nenhuma das situações é a ideal. Porém, nem sempre é possível escolher.
DÁDIVA DE DEUS É RECEBER O VESTIÁRIO COM DUAS MINAS DE OURO COMO ANDERSON E LUCAS.
Quinta-feira, Agosto 31, 2006
A QUESTÃO DO VESTIÁRIO "VAZIO "
4. O co-irmão passou pela fase de transição nos anos de 2001/2002/2003. Perdeu quase todos os Gre-Nais e esteve, em duas oportunidades, a um suspiro de cair para a segunda divisão. Mas tomou as medidas corretas. “Limpou” o vestiário e fez contratos longos com atletas promissores formados nas categorias de base. Com isso, foi montando time e fazendo dinheiro para a contratação de jogadores prontos de qualidade.
5. A “limpeza” do vestiário do Grêmio foi mais penosa e complicada. Quando me refiro a “limpeza”, nada tem a ver com a qualidade ou o caráter dos atletas. Sim com a existência de salários, remunerações, custos incompatíveis com a capacidade de pagamento do Clube.
Assim, os anos de 2003 e 2004 foram o período de desmontagem de uma folha de pagamento que chegara a ter um custo mensal de cerca de três milhões de reais. Só no Departamento de Futebol. Para lembrar alguns casos, Zinho chegou a custar mais de trezentos mil mês e outros (vários atletas) com custo entre cem mil a duzentos mil reais.
6. A desmontagem antes referida provocou crise no vestiário. Instabilidade entre comandantes e comandados. Conflitos permanentes. Dificuldade na contratação de novos atletas pela enorme diferença de remuneração que acabava provocando.
7. Em 2003, o Grêmio foi razoavelmente bem na Copa Libertadores, mal no campeonato gaúcho, iniciou bem o brasileiro, mas desandou, salvando-se do descenso em um enorme esforço no final do campeonato. Esforço insuficiente no ano de 2004 resultando na queda para a série B.
- Aconteceu, aí, a fase final da “limpeza”. Tanto assim que, ao assumir, a nova Direção (12/2004)tinha à disposição, segundo me lembro, os seguintes jogadores: Andrey (hoje no Figueirense), Galatto (herói da "Batalha dos Aflitos"), Marcelo Grohe, Luiz Felipe, Thiago Prado (no Figueirense), Nunes, Leanderson, Bruno, Samuel, Cláudio Pitbull, Christian, Marcelinho, Anderson. Despontando Lucas e Bruno Coutinho.
9. Christian propiciou aos cofres do Clube cerca de quinhentos mil dólares, Pitbull cerca de 500 mil Euros, Marcelinho um milhão de reais por parte dos direitos federativos.
Claro que a montagem de uma nova equipe foi difícil diante da escassez de recursos financeiros, escassez que já acontecia desde a quebra da ISL. Em política realista, tinha de ser montado um time barato, pois o Clube não dispunha de recursos para grandes investimentos.
10. A grande mudança aconteceu com o destaque e a “venda” de Anderson.
(continua)
Segunda-feira, Setembro 04, 2006
Tenho um amigo contabilista. Desses que adoram ler balanços. Gremista é claro. Foi nas letrinhas pequenininhas da publicação do Balanço do Grêmio de 2005, escolheu e me mandou o seguinte trecho querendo a minha opinião. Como não entendo de balanço ponho à disposição para o debate. Segundo ele, isso foi publicado nas notas explicativas da Direção do Clube:
Por outro lado , os fatores econômicos regionais são extremamente inibidores de uma participação mais expressiva de associados (torcedores) e empresários (anunciantes / patrocinadores) na captação dos recursos financeiros que possibilitariam uma independência financeira dos clubes em relação aos contratos de televisão, que hoje representam 70% das receitas ordinárias. Ainda, o fato de o Grêmio FBPA possuir um dos maiores estádios particulares de futebol do brasil, o que é motivo de muito orgulho para todos os gremistas, traz o ônus da necessidade de uma grande estrutura para sua manutenção, tanto em termos de materiais como de pessoal. Não menos importante, a grande herança do passivo não fiscal, produzidos em exercícios anteriores, faz com que uma grande parte dos recursos da atividade tenham que ser desviados de sua finalidade , para os enfrentamentos emergenciais que se apresentam diuturnamente, e para os quais se buscam soluções alternativas com criatividade e comprometimento.
Diante desse contexto de dificuldades, a Administração da Entidade, gestão 2005 / 2006, vem de forma profissional e responsável dando continuidade à modernização do modelo administrativo e implantação da filosofia de Planejamento Estratégico, envolvendo todas as áreas de atividade. Filosofia essa que deverá nortear todas as tarefas internas com o objetivo único de alcançar êxitos embasados num respaldo administrativo, mercadológico e financeiro que proporcione a devida sustentação operacional. A profissionalização da gestão, a implantação de novas tecnologias de hardware e software, a melhoria das condições de trabalho e a valorização profissional dos colaboradores , irá contribuir para que os resultados almejados sejam atingidos em um menor espaço de tempo, e que o equilíbrio financeiro sempre buscado nos últimos exercícios torne-se uma realidade, possibilitando assim que novamente o Grêmio FBPA seja elevado à categoria dos campeões dos certames por ele disputado. (publicado em 29/04/06, ZH)
anderson (1)
11. Berdichevski, vice-presidente e Krebs, diretor, andavam agitados pelo Departamento de Futebol. Além das naturais preocupações com a formação do time profissional, falta de dinheiro para contratação de jogadores, dificuldades na liberação de verbas financeiras para praticamente tudo, havia a questão dos contratos dos jogadores juvenis e juniores. Entre eles Lucas e Anderson e aquele lateral esquerdo que foi para o São Caetano (Pará ou alguma coisa assim, não estou lembrado do nome). Anderson não tinha idade para firmar contrato profissional. Fortemente assediado por empresários, um havia dado apartamento e outros bens materiais e/ou pagava hotel para o craque menino. Dificuldades de relacionamento com a mãe. Imagine-se quando completou os 16 anos. Berdichevski um médico pediatra capaz de um caloroso relacionamento conseguiu a aliança de Sílvio Giordano uma espécie de tutor de Anderson. Conjugaram-se sorte e competência. Sílvio, gremistão de quatro costados, discreto e firme, tinha e teve influência decisiva sobre Anderson para fazê-lo contrariar as intenções dos empresários que o cercavam e assinar com o Grêmio.
(continua)
Sábado, Setembro 09, 2006
anderson (2)
12. Auxiliado por Sílvio, Berdichevski negociou com Anderson contrato de três anos o máximo permitido pela lei. Salário, o dobro dos jogadores da categoria equivalente. O que levou Berdichevski a ter de convencer o Presidente e, claro, o detentor da chave do cofre. Mas, enfim, o Vice-Presidente de futebol acreditava muito no futebol de Anderson e não admitia, em nenhum hipótese, perder o atleta. A negociação envolvia também a mãe de Anderson sua representante legal. Sem a assinatura dela nada teria valor. Por trás e ao lado, aquelas cenas surrealistas, verdadeiras ou supostas, até de um 'sequestro' do jogador. Para variar, apareceram pessoas a criticar o salário do jogador como muito elevado para um menino de dezesseis anos.
13. Todas as vezes nas quais foi aproveitado, Anderson mostrou que a idade não era problema. Nervosismo zero apesar da idade. Velocidade, drible, chute forte, personalidade. Gol em Grenal inclusive.
14. Veio o ano de 2005. Empresários não se conformavam com a maneira como Anderson havia assinado com o Grêmio. Atenta às manobras, a direção do Grêmio tratou de dar aumento de salário para o jogador, valorizando, assim, a multa contratual para a hipótese de rompimento do contrato. Fez o que não foi feito no caso Ronaldinho e muita gente acha que deveria ter sido feito.
(continua)
Terça-feira, Outubro 10, 2006
'A torcida vai me cobrar um time competitivo. A venda de Lucas me ajuda a fazer uma equipe forte e manter os compromissos em dia. Foi assim quando negociamos Anderson - lembrou Odone' (ZH de hoje, 10/10/2006).
A declaração do Presidente reeleito confirma a tese que estamos defendendo. O vestiário 'vazio' de problemas (ver colunas anteriores), mas recheado com duas minas de ouro - Anderson e Lucas - foi e vem sendo fator decisivo para a formação de um time novo, sem os vícios dos salários acima das forças do clube, adequado à nova realidade, exigências e circunstâncias.
Convém lembrar que, antes do dinheiro do Anderson, o Grêmio estava às portas da terceira divisão. O dinheiro possibilitou algumas contratações diferenciadas para reforçar o time. Permitiu, também, pagar os salários em dia.
Reforça a importância das categorias de base, de uma administração atenta e competente na busca e manutenção de valores. Lucas veio adolescente para o Grêmio no ínicio do ano de 2003. Anderson teve o primeiro contrato de profissional assinado em 2004, com aumento de salário em 2005.
Homenagem e reconhecimento aos que anonimamente -ou quase - se dedicam a esse trabalho. Em especial aos que o fazem sem paga nenhuma a não ser o orgulho de servir ao Grêmio.
Sábado, Maio 12, 2007
Corresponderá a cerca de R$ 17,8 milhões para o Grêmio
Descontado o percentual de 20% a que Lucas tem direito e a comissão do empresário Carlos Leite, o Grêmio ficará com 6,5 milhões de euros (cerca de R$ 17,8 milhões), "ainda um belo valor", segundo Odone. Metade será pago em julho, quando Lucas se transferir. Também foi aceito pela direção do Liverpool o repasse ao Grêmio de 10% sobre uma futura venda do jogador. O Grêmio também terá direito a receber outros 5% relativos aos direitos de formação do volante.
Como havia ocorrido na venda de Anderson ao Porto, em 2005, a saída de Lucas representa um alívio financeiro. Antes de contratar um substituto, o Grêmio irá pagar contas.
- A venda de Anderson nos ajudou a sair da Segunda Divisão. A de Lucas nos auxilia numa situação financeira que ainda é delicada. Pagamos mensalmente três folhas: a dos jogadores, a dos funcionários e a do passado - disse Odone.
zh
Sobre Lucas este blog publicou em 07/12/2006:
Breve história de Lucas
Lucas chegou ao Grêmio em Março de 2003. Havia sido descoberto, cerca de dois meses antes, em terras matogrossenses, por Rubem Franco, apelido "cachorrão".
Em 2004, ainda júnior, começou a jogar no profissional, especialmente no Grêmio B. Em 2005, com a chegada de Mano Menezes passou a ser aproveitado mais freqüentemente na equipe principal até conquistar titularidade.
Neste ano de 2006, "explodiu" definitivamente para o mundo.
Parabéns a todos que, de 2003 a 2006, descobriram, trabalharam, lançaram e afirmaram o atleta. Parabéns Lucas que soubeste aproveitar a oportunidade no Grêmio!
E, em 01/05/2007:
Resultado das "sucateadas" categorias de base
Em tempos de crise, o Grêmio tem sido premiado pelo surgimento nos últimos anos de algumas grandes revelações. De 1999 a 2001, viveu a fase de Ronaldinho. Logo em seguida, em 2004, descobriu Anderson. O meia foi vendido ao Porto, no fim do ano seguinte, mas já então a torcida vibrava com o volante Lucas. Este ano, está tendo a sorte de contar com Carlos Eduardo (foto), menino ainda, mas com talento capaz de empolgar. Coluna Bola Dividida de ZH
Carlos Eduardo chegou ao Grêmio em 2001. Lucas, em 2003.
Todos os citados são produto, ainda, das categorias de base "sucateadas" do Grêmio. Assim adjetivadas, também, por essa mesma coluna Bola Dividida. Se as "sucateadas" produziram e estão produzindo jogadores desse gabarito, imaginem o que podemos esperar das categorias de base sob direção profissional!? E é mais uma prova de que o Clube é uma continuidade. Colhe-se hoje o que se plantou ontem e colher-se-á no futuro o que hoje se plantar.
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