REFLEXÕES SOBRE O NEGÓCIO ARENA
Embora poucos tenham percebido, exceção feita talvez a um grupo de conselheiros que solicitou uma avaliação técnica sobre as propostas, o negócio no qual o Grêmio irá se envolver extrapola em muito a questão da arena em si. E aqui não me refiro às questões de financiamento e endividamento, além, é claro, das questões eminentemente da organização do clube e desportivas em geral.
Vamos focar no negócio em si, mas pensando de uma forma mais ampla. Vou usar números redondos para facilitar a explicação, baseado nos dados que tenho tido acesso. O estádio (arena) tem um custo estimado em torno de 300 milhões. O fluxo de caixa projetado para ele, para os próximos dez anos, é de cerca de 50 milhões por ano. Somando-se este valor com o primeiro, chega-se num fluxo de caixa, em números redondos, de cerca de 1 bilhão de reais em 10 anos (desconsiderando o tempo de construção).
Considerando-se que a Arena em si possa ter uma utilização de cerca de 60 dias por ano (hoje, o Olímpico é usado cerca de 40 dias por ano), percebe-se que, comparando com os outros investimentos associados – hotel, shopping, etc, a importância econômica da Arena passa a ser, provavelmente, secundária. Somente para efeitos de estimativa, consideremos, sem receio de errar muito, que a movimentação financeira do entorno possa chegar a quatro vezes a Arena. Isso nos daria cerca de 4 bilhões de reais, que somados à própria Arena, totalizariam cerca de 5 bilhões de reais.
Bem, toda essa conjectura pode nos dar alguns insights importantes. Primeiro, o valor do Olímpico, digamos 100 milhões (alguns falam em 70 e outros 90, mas para o nosso cálculo aqui, isso é irrelevante), torna-se absolutamente secundário - cerca de 2% (isto mesmo, 2%) do montante total. Bem, então se pode inferir que o estádio do Grêmio não é o principal objetivo dos possíveis parceiros.
Segundo, dados esses números, onde está o “pulo do gato”? Ora, conforme meu amigo Gilmar Machado já observou, na marca Grêmio, que viabilizará o restante dos investimentos. Bem, em vista disso, não seria interessante, por exemplo, ter uma participação no restante dos negócios? Até por que representarão um volume muito maior de recursos. Minha sugestão seria o clube, sem se envolver na administração do entorno – melhor deixar isso para profissionais de tempo integral – obter remuneração na forma de royalties.
Um terceiro ponto, proposto por alguns conselheiros, entre eles o ex-vice-presidente do CD, Dr. Adalberto Preis, é a questão da dívida do Grêmio, que gira em torno de 100 milhões. De novo, usando o nosso raciocínio global sobre o negócio, isso representaria uma parcela pequena do montante. E nem me refiro à doação desse valor, mas uma forma de equacionar/ alongar a dívida atual, que permitisse ao clube “respirar”.
Bem, o objetivo dessa missiva, gostaria de deixar bem claro, é contribuir para o debate. O negócio Arena parece muito promissor e pode ser um marco na historia do clube, assim como o próprio Olímpico e a campanha do cimento do Dr. Hélio Dourado também o foram. Mas por que não fazê-lo melhor ainda?
Carlos Alberto Diehl
ET: embora eu não seja fã de ‘argumentos de autoridade’, caso queira saber mais sobre minhas credenciais, acesse minha página.
PENSE ANTECIPADO. PENSE GRÊMIO. SEMPRE!
4 comentários:
COMENTANDO - AS REFLEXÕES SOBRE O NEGÓCIO ARENA
Prezado Carlos Dielh e seu amigo Jaime Machado
Li a exposição de seus argumentos e tenho muitas dúvidas sobre o que foi apresentado.
1- Sobre os parágrafos que fazem projeções sobre as informações que foram postadas.Estas projeções não fazem uma abordagem global,como foi dito inicialmente.Elas estão focadas em resultados financeiros.
Estas prospecções estão baseadas em modelos econômicos muito questionados,por economistas em todo o mundo.Além disso,alguns o consideram superados.
O principal questionador do modelo empregado, baseado em resultados econômicos, é o Premio Nobel da Economia no ano 2001,Joseph Stiglitz.
As premissas de seu modelo partem do princípio que as economias de mercado ,se caracterizam por alto grau de imperfeições.Na sua opinião, modelos econômicos antigos presumem informações(projeções)perfeitas,mas mesmo pequenas informações imperfeitas podem gerar ,grandes consequências econômicas.
O modelo de Stiglitz leva em consideração a "assimetria das informações",que é um outra maneira de dizer que "algumas pessoas sabem mais que as outras".
2-O Eurodeputado Ivo Belet presidiu uma comissão que devido aos problemas enfentados,pelos clubes e aos que estão por vir.Participaram desta comissão toda a pirâmide,que caracteriza o futebol europeu,associações acadêmicas,entre outros participante.As seguintes conclusões obtidas por consenso foram:
a)O futebol tem suas especificidades ,e não é um negócio como outro qualquer;
b)ferramentas econômicas empregadas
em negócios, de outras áreas, não são adequadas para analisar resultados econômicos dos clubes;
c)sugere um ampla abordagem holística, e que forneça sólidos resultado ,que possibilitem melhores avaliações.
Obs - todas as fontes o podem ser rastreadas na rede.O relatório da comissão presidida por Ivo Belet,pode se acessado na página do Parlamento Europeu
Cara Maria:
Não tenho certeza se entendi bem teus comentário, mas vou tentar esclarecer um pouco mais meu ponto de vista.
É claro que medir "resultados"
exclusivamente do ponto de vista
econômico-financeiro é restritivo; mas o objetivo do texto era discutir somente deste ponto de vista, tanto é que foca no "negócio" Arena, isto é,
fluxo de recursos financeiros.
De um ponto de vista holístico, vários outros aspectos podem (e devem) ser considerados: paixão, história, logística, etc. mas não era o meu objetivo, até por que nessas áreas certamente há pessoas em melhor condições de opinar. Para isso, inclusive, existem técnicas de apoio à decisão, chamadas multicriteriais.
Quanto à assimetria informacional, ela é tema principalmente, em ambiente interno, de governança corporativa, com base na Teoria de Agência. No ponto de vista externo se dá quando, por exemplo no caso Arena, diferentes agentes tem
informações diferentes, o que pode
permitir ao mais bem informado enxergar melhor o negócio.
Por isso, inclusive, o apoio de pessoal especializado é importante.
Naturalmente, modelos de projeção são simplificadores da realidade; a palavra modelo, intrinsecamente, carrega essa limitação. Por isso modelos são guias, não rotas obrigatórias. Por outro lado,
para se decidir no presente sobre o
futuro, são necessárias ferramentas de apoio à decisão.
Por fim, não quis eu simplificar a
decisão sobre a Arena, mas simplesmente contribuir com a discussão, trazendo elementos adicionais ainda não considerados. Julgo importante que outras pessoas se manifestem, levando em
conta, também, aspectos não financeiros e/ou comerciais.
Espero estar contribuindo para o
debate.
Prezado Carlos
Vou considerar que eu te entendi e tu me entendeu.
1-A tua abordagem inicial se dedicou a fazer uma análise ampla,mas eu considero que está focada em resultados financeiros.Não estou querendo dizer,que seja proibido ganhar dinheiro,muito pelo contrário,eu e as instituições precisamos e gostamos de dinheiro.
2-O que questiono é subordinar tudo ao lucro,que também não significa abrir mão de dinheiro.
3-A financeirização parte do pressuposto,que os resultados das instituições,devem ser julgados por critérios puramente financeiros,e refletem-se nas práticas,que tendem a se modificar para se adequar a esta lógica;
4-Neste destrutivo processo,no meu modesta entendimento,a instituição passa a ser vista,como um portolófio de atividades,e ela própria,não será mais do que um alternativa de investimentos.Foi assim que entendi tua exposição,e a proposta da "negócio"Arena;
5-No mundo da financeirização os julgamentos de valor,são feitos sobre expctativas de geração retornos futuros,e descolados da realidade.Seu principal compromisso será com o mundo fictício,e com poucos ganhadores;
6-Além disso,neste mundo com estas características,os "vendedores de ilusões",que julgam os valores,mesmo sendo considerado democrático por alguns,apresenta assimetrias de poder e informação,é um teatro onde os atores são extremamente desiguais,não só em termos de poder,mas de acesso à informações e conhecimentos que possam realizar julgamentos teoricamente mais corretos.
7-Voltando ao "negócio" Arena as informações sobre este processo,são escassas,contraditórias e foi pedido pelo presidente do clube,que os conselheiros não divulgassem informações sobre o material que estava sendo colocado à disposição dos conselheiros.Ouvi no rádio.Eu,alguns de meus familiares e amigos somos sócios proprietários.Se o negócio é tão bom por que este procedimento?
8-Atualmente o processo de financeirização do Grêmio,que seu amigo Gimar Machado apresentou como o pulo do gato,começa a fazer água e vítimas de forma irreversível,nos EUA,Europa,Japâo e lugares.Até megainvestidores estão abandonando o barco,fugindo deste processo,que tem deixado terra arrasada;
9-Neste momento a única coisa de que temos medo é não termos medo.Pois, o que estão nos apresentando vagamente é assustador.E não venham nos rotular de Vanguarda do Atraso.Estamos consciente da enorme aventura que chamam de modernidade.
10-Quanto às teorias citadas, elas partem do princípio de que serão aplicadas, em um ambientes que permanecerão estáveis e com comportamentos padrão.
Por fim bem vindo ao debate.A assimetra do conhecimento não se referia a ti,mas a nós sócios e torcedores que não temos conhecimento do que fazem em nosso nome.Estou acompanhando, na medida do possível a reestruturação do Palmeiras,que tem como Diretor de Planejamento o teu colega o honrado Prof.Dr.Luiz Gonzaga Belluzzo(aposentou-se do Depto de Economia da UNICAMP).QUE INVEJA dos Palmeirenses.Outro dirigente ,muito inteligente,que está na parada é o André Sanches no Corinthias.Apresentou aos torcedores e à imprensa os, valores dos jogadores, empresários e os percentuais que cabem a cada um.Espero que faça escola.
Cara Maria:
Que bom que estamos nos entendo! Creio que este tipo de debate poderia ser mais freqüente, em prol do nosso Grêmio.
Acho que teu comentário reforça a minha resposta, na medida em que amplia o debate, que era minha principal preocupação inicial.
Todo o processo decisório envolve uma multiplicidade de critérios e, realisticamente pensanso, os financeiros são frequentemente os mais importantes. A par da obtenção de dinheiro pela instituição, para poder cumprir seu principal objetivo que é satisfazer os sócios e torcedores, a análise econômica também deve nos levar a evitar prejuízos. É nesse sentido que propus o debate, em uma área na qual creio poder contribuir, mesmo com toda a assimetria informacional e consequentemente com minhas restrições de conhecimento a cerca dos dados.
Todo o modelo, econômico ou não, implicitamente carrega uma simplificação. Mas ele ajuda a entender a realidade, como um mapa. O problema é quando os decisores tomam o mapa pelo território, acreditando piamente estar enxergando a própria realidade. Isso faz com que ignorem os riscos ou acreditem que todas as conseqüências estejam previstas e tratadas - ou que possam ser.
Gostaria de colocar também que em qualquer mundo (moderno ou pós-moderno, ou mesmo "anti-moderno") os homens estabelecerão relações de troca. No nosso mundo, elas são reguladas pelo dinheiro - e aqui não se trata de ser a favor ou contra. Assim, é importante entender como essas relações se darão.
Bem, não quero me alongar e correr o risco de ser repetitivo e tornar o debate enfadonho. Tuas contribuições são extremamente bem-vindas e sugeriria, humildemente, que pudesses continuar a fazê-las, inclusive em aspectos mais concreto.
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