Nosso Colaborador
ÉTICA E FUTEBOL Mauro Knijnik
A crise ética do país não tem fronteiras. Avança sobre as instituições, corrói a vida política, consagra a impunidade. Nos últimos meses, ficamos mais uma vez sobressaltados com as revelações sobre negócios escusos envolvendo um clube paulista de futebol, com repercussões que colocam em xeque o resultado do Brasileiro de 2005. A falência moral do país não poupa - e não é de hoje - a maior das nossas paixões esportivas.
Em meio à confusão moral, o homem acaba não percebendo que a falta de ética é uma derrota que ele impõe a si mesmo. Há um clichê a respeito do futebol que o caracteriza como 'uma caixinha de surpresas', referência popular ao fato de que dentro do campo tudo pode acontecer. Mas há coisas na vida das quais não podemos esperar surpresas. Precisamos de um mínimo de previsibilidade moral nas nossas relações, e ela se justifica pela aplicação mínima de regras de conduta universalmente aceitas.
Não podemos encarar o futebol como um aspecto secundário da vida, pelo volume dos negócios ou pela intensidade das paixões sinceras que movimenta. Tanto quanto cobramos de nossos representantes, precisamos exigir decência de quem se dedica ao esporte. Da mesma forma como na vida social ou no amor, no nosso dia-a-dia, dependemos de regras de convivência que funcionem como linhas de fronteira entre o certo e o errado e entre o bem e o mal.
Confesso que me incomoda a expressão 'isso é coisa do futebol' quando se pretende justificar atitudes antiéticas ou até mesmo ilegais no âmbito futebolístico. É triste ver um conceito torpe prevalecer em uma atividade que mistura tão bem tradição e paixão. Ser permissivo em relação ao futebol é socialmente aceitar que tudo pode acontecer nesse ambiente agitado por transações milionárias, exposição na mídia e vaidade. Como se traíssemos a opinião pública, escondêssemo-nos dela. Não podemos aceitar que os números das transações não fechem, que sempre exista algo de podre nos bastidores. Enfim, não podemos aceitar 'coisas do futebol'.
É preciso resgatar a ética como um instrumento de valorização da condição humana. Ao assumir a presidência do Conselho Deliberativo do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, procurei levantar a discussão do tema por meio de iniciativa inédita no âmbito esportivo: a criação de um Código de Ética. Objetivo, contém regras que não fogem do bom senso. Nesse mesmo nível de entendimento, ou seja, no nível da ética e do bom senso, é que acreditamos que devam ser apuradas todas as irregularidades que ocorrem no país.
Nossa expectativa é que esse tipo de investigação sirva para que as 'coisas de futebol' sejam apenas a tradição, a torcida e, igualmente, a ética. O Brasil precisa de bons exemplos e o futebol, como paixão nacional, precisa estar na linha de frente desta batalha.
presidente do Conselho Deliberativo do Grêmio
Correio do Povo Porto Alegre - RS - Brasil 26/10/2007
ÉTICA E FUTEBOL Mauro Knijnik
A crise ética do país não tem fronteiras. Avança sobre as instituições, corrói a vida política, consagra a impunidade. Nos últimos meses, ficamos mais uma vez sobressaltados com as revelações sobre negócios escusos envolvendo um clube paulista de futebol, com repercussões que colocam em xeque o resultado do Brasileiro de 2005. A falência moral do país não poupa - e não é de hoje - a maior das nossas paixões esportivas.
Em meio à confusão moral, o homem acaba não percebendo que a falta de ética é uma derrota que ele impõe a si mesmo. Há um clichê a respeito do futebol que o caracteriza como 'uma caixinha de surpresas', referência popular ao fato de que dentro do campo tudo pode acontecer. Mas há coisas na vida das quais não podemos esperar surpresas. Precisamos de um mínimo de previsibilidade moral nas nossas relações, e ela se justifica pela aplicação mínima de regras de conduta universalmente aceitas.
Não podemos encarar o futebol como um aspecto secundário da vida, pelo volume dos negócios ou pela intensidade das paixões sinceras que movimenta. Tanto quanto cobramos de nossos representantes, precisamos exigir decência de quem se dedica ao esporte. Da mesma forma como na vida social ou no amor, no nosso dia-a-dia, dependemos de regras de convivência que funcionem como linhas de fronteira entre o certo e o errado e entre o bem e o mal.
Confesso que me incomoda a expressão 'isso é coisa do futebol' quando se pretende justificar atitudes antiéticas ou até mesmo ilegais no âmbito futebolístico. É triste ver um conceito torpe prevalecer em uma atividade que mistura tão bem tradição e paixão. Ser permissivo em relação ao futebol é socialmente aceitar que tudo pode acontecer nesse ambiente agitado por transações milionárias, exposição na mídia e vaidade. Como se traíssemos a opinião pública, escondêssemo-nos dela. Não podemos aceitar que os números das transações não fechem, que sempre exista algo de podre nos bastidores. Enfim, não podemos aceitar 'coisas do futebol'.
É preciso resgatar a ética como um instrumento de valorização da condição humana. Ao assumir a presidência do Conselho Deliberativo do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, procurei levantar a discussão do tema por meio de iniciativa inédita no âmbito esportivo: a criação de um Código de Ética. Objetivo, contém regras que não fogem do bom senso. Nesse mesmo nível de entendimento, ou seja, no nível da ética e do bom senso, é que acreditamos que devam ser apuradas todas as irregularidades que ocorrem no país.
Nossa expectativa é que esse tipo de investigação sirva para que as 'coisas de futebol' sejam apenas a tradição, a torcida e, igualmente, a ética. O Brasil precisa de bons exemplos e o futebol, como paixão nacional, precisa estar na linha de frente desta batalha.
presidente do Conselho Deliberativo do Grêmio
Correio do Povo Porto Alegre - RS - Brasil 26/10/2007
3 comentários:
(IN)COERÊNCIA E ENGANAÇÃO
Do site de um dos movimentos políticos do Clube o que mais critica os outros:
"Não é fato recente a observação de um desinteresse pelos assuntos do clube. A ausência de grande número de Conselheiros, infelizmente, tem sido constante nas reuniões do CD.
A prática de assinar a lista de presença e ir embora logo depois é tão corriqueira que os praticantes nem mesmo se constrangem. Conduta esta que reprovamos e que com certeza revolta a grande nação tricolor, pois enquanto para nós (..., )
para outros, pelo jeito, significa apenas status social e nada mais. Isso tem que mudar! Você, associado tricolor, pode a partir do próximo ano dar um basta nesta situação. Procure conhecer e se informar sobre os atuais Conselheiros do clube para que na próxima eleição você saiba separar o “joio do trigo” e ajudar a construir um Conselho participativo e atuante como o nosso Grêmio merece."
Incoerentemente, esse movimento apoiou recentemente candidato que nos últimos 20 anos esteve completamente ausente do Conselho Deliberativo.
Qual o movimento não interessa. Não estamos a criticar movimento nenhum. Simplesmente estamos a flagrar uma incoerência estonteante!
Para quem preza certos valores... é claro!
Do mesmo site:
"Infelizmente, hoje existe no Conselho Deliberativo do Grêmio um número significativo de conselheiros que somente comparecem às reuniões em dia de eleição ou quando o assunto é de seu próprio interesse. ISSO É INACEITÁVEL! ISSO É PREJUDICIAL PARA O PRESENTE E SERÁ PREJUDICIAL AO FUTURO DO CLUBE! Pense a respeito disso, associado gremista. A responsabilidade pelo presente e futuro do Grêmio também é nossa! "
Pois esse movimento acabou de ser derrotado com um candidato que nunca comparecia ao Conselho.
Do mesmo site:
"Se não tem a capacidade de cumprir com o compromisso assumido, QUE RENUNCIEM AO SEU MANDATO, porque não parecem dignos de representar a vontade do torcedor gremista, que votou maciçamente neles para representá-los como tal. Subverter essa ordem seria descumprir todos os preceitos básicos de uma democracia – se é que essa democracia existe, pelo pensamento divulgado, no âmago desses conselheiros."
E agora Antonão? Ou melhor: E agora José? Ou será mesmo: E agora Antonão?
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