sábado, abril 21, 2007

Quando a emoção ultrapassa a razão na imprensa

Sob o título "90 minutos para mudar a história", o jornalista do jornal Pioneiro de Caxias do Sul Gabriel de Aguiar Izidoro misturou de forma extremamente infeliz e até mesmo agressiva a decisão entre Grêmio e Caxias do Sul com o nazismo. O jornalista inicia o seu texto recordando que a última vez em que uma final do Gauchão fora decidida somente por clubes do interior foi justamente no ano em que a Alemanha nazista invadiu a Polônia. Sob o ponto de vista de curiosidade histórica para ilustrar a distância do fato no tempo não se verifica nenhuma imprecisão ou exagero. Ocorre que mais adiante o texto faz questão de mencionar que o Grêmio foi fundado sob "forte inspiração germânica", sabendo-se que o texto na sua primeira frase aborda a Alemanha nazista. Qual seria o intituto de mencionar a fundação do Grêmio por alemães, fato totalmente irrelevante para a decisão e sob o ponto de vista histórico de finais de campeonatos gaúchos, senão sugerir uma vinculação falsa e sem qualquer fundamento entre o tricolor a um regime doentio e sepultado pela história.

Caxias do Sul - A Alemanha nazista estava recém ocupando a Polônia e dando a senha para o início da Segunda Guerra Mundial quando dois times do Interior decidiram o Campeonato Gaúcho pela última vez. Embora válida pelo certame de 1939, foi apenas no dia 28 de janeiro de 1940, quando o Riograndense, de Rio Grande, empatou sem gols com o Grêmio Santanense, de Santana do Livramento, no campo do Bancário, em Pelotas, e sagrou-se campeão estadual, a última final de Gauchão livre de representantes da Capital. De lá para cá, inevitavelmente alguma equipe porto-alegrense intrometeu-se nas decisões. Incluído aí o Renner, em 1954 - último ano em que a final do Gauchão passou longe da Dupla Gre-Nal: o vice, naquela oportunidade, foi o Brasil-Pe. Todos esses fatos oferecem apenas uma fração da magnitude da tarefa que o Caxias tem pela frente, a partir das 20h30min de hoje, no Estádio Olímpico. Porém, não a dimensionam totalmente. Caso elimine o Grêmio, clube fundado sob forte inspiração germânica, ganhando e empatando por qualquer placar, ou perdendo por dois gols de diferença, o Caxias terá realizado uma proeza ainda maior que a dos rio-grandinos e santanenses: o campeonato de 1939 havia sido boicotado pela Capital. Ou seja, a final e o título já pertenciam aos clubes do Interior por antecipação. Agora, o caso é completamente oposto: o cafezinho do Gauchão tornou-se amargo para o tricolor e, em vez de pular fora, o clube promete armar até uma guerra para sonegar do Interior qualquer possibilidade de libertar-se de um tabu de quase sete décadas. À equipe grená, cabe jogar o melhor futebol de seus 72 anos de existência - talvez até superior ao praticado há sete anos, quando chegou ao Olímpico com uma vantagem de três gols e saiu com um troféu de campeão - para assegurar que o Campeonato Gaúcho volte a pertencer, de fato, a todo o Rio Grande do Sul. São 90 minutos para mudar a história. Curiosamente, da última vez em que a final do Gauchão foi disputada por dois clubes do Interior, a Itália havia se sagrado campeã mundial no ano anterior. A propósito, quem foi mesmo que ganhou a Copa do Mundo, ano passado, na Alemanha?
A Itália integrou o eixo e entregou ao mundo o fascimento, o que é irrelevante no futebol e não faz parte da história do Caxias, clube fundado por italianos. O texto do jornalista é, ademais, por demais petulante. Sugere que um título conquistado por Caxias ou Juventude significaria, na prática, a vitória de "todo" o Rio Grande do Sul. Ora, Caxias e Juventude têm menos de cinco por cento dos torcedores do futebol gaúcho. Grêmio e Internacional dividem a paixão do gaúcho e mesmo torcedores dos times da Serra são adeptos de Grêmio e Internacional. Jamais um título pertencerá a todo o Rio Grande do Sul. Ponto. Se conquistado pelo Grêmio, a quase metade colorada do estado estará derrotada. Se conquistado pelo Internacional, a outra metade do estado será a perdedora. Título de Juventude ou Caxias pertence apenas à Caxias do Sul e cidades vizinhas. Não haverá carreata de torcedores em Uruguaiana ou Torres, cidades que testemunhariam festas apenas em caso de vitória de Grêmio ou Inter.

2 comentários:

Anônimo disse...

Por favor, alguém sabe o e-mail deste imbecil do Pioneiro que se diz jornalista ? Lamentável !

Anônimo disse...

gabriel.izidoro@jornalpioneiro.com.br